Sagrada Família

25/12/2012 10:49

Sagrada Família

Leituras 

1ª Leitura: 1Sm 1, 20-22.24-28

2ª Leitura: 1Jo 3, 1-2.21-24

Salmo 84(83)

Evangelho: Lc 2,41-52

 

 Reflexão

A Igreja celebra nesta final de semana, a festa da SAGRADA FAMÍLIA DE NAZARÉ.

         Vamos meditar sobre alguns pontos desta festa como mensagens para nós e para as famílias de todos os tempos olhando para a Sagrada Família de Nazaré.

  

1. A Presença de Jesus no seu meio enobrece e transcende qualquer Família

         A família é uma realidade cardinal na vida. Por isso, João Paulo II disse: “A família é patrimônio da humanidade, porque através dela, de acordo com o desígnio de Deus, se deve prolongar a presença do homem no mundo” (No encontro com as famílias no Rio de Janeiro). A família é o lugar onde, por vontade de Deus e pela natureza se assegura a continuidade de uma humanidade. Além disso, a família é a manifestação de um amor que, tendo sua fonte em Deus, através da comunhão conjugal alcança este mundo e o enriquece.

         A família não somente cumpre a missão transcendental de transmitir a vida e prolongar assim a humanidade, mas também é motor da humanidade: “Longe de ser um obstáculo para o desenvolvimento e crescimento da pessoa, a família é o âmbito privilegiado para fazer crescer todas as potencialidades pessoais e sociais que o ser humano leva inscritos em seu ser”, disse João Paulo II no mesmo encontro. A família é o ambiente em que cada um dos filhos descobre e inicia a caminhada de sua vocação humana e cristã. A experiência de comunhão e participação que caracteriza a vida diária da família representa sua primeira e fundamental contribuição à humanização e socialização da pessoa. A família é primeira e insubstituível escola criadora de humanidade, exemplo e estímulo para as relações comunitárias mais amplas, mediante a transmissão de virtudes e valores. Numa sociedade que corre o perigo de ser cada vez mais despersonalizada e massificada, e, portanto, inumana e desumanizadora, a família possui e comunica, portanto, hoje energias formidáveis capazes de tirar o homem do anonimato, de mantê-lo consciente de sua dignidade pessoal, de enriquecê-lo com profunda humanidade. Através das relações que se vivem no seio da família, se desperta a experiência da paternidade de Deus e da fraternidade de Cristo.

         Por isso, a família, ainda que relativizada, mantém todo seu valor singular e intercambiável. Diversos fatos contemporâneos o confirmam. A experiência dos países onde se levaram ao máximo a socialização e os estudos psicanalíticos mostram a decisiva transcendência que para toda a vida tem a relação paterno-filial.           

         A fé cristã nos apresenta a família como o primeiro lugar e a primeira experiência da vocação que todos nós seres humanos temos: a construir e integrar-nos na grande família humana (Gaudium et Spes, 2), isto é, a grande família dos filhos de Deus.

         A festa de Natal nos recorda que Cristo, o Filho de Deus, escolheu uma família para fazer presente sua Encarnação e sua Boa Notícia no meio da família humana. Para Jesus uma família foi o espaço físico e humano onde consolida e desenvolve sua humanidade: “Jesus crescia em estatura, em sabedoria e graça diante de Deus e dos homens” (cf. Lc 2,52). Maria e José foram testemunhas e promotores do crescimento vital e pessoal do Filho de Deus encarnado na humanidade e que eles servem de guia para os esposos e as famílias para que sua caminhada alcance a plenitude de sua vocação. O mistério da Encarnação está associado com a vida de uma família concreta, e partir dela com todas as famílias que com sua entrega e testemunho enriquecem a humanidade.

         A vida familiar é um valor importantíssimo, mas não absoluto. A encarnação de Deus no seio de uma família quer nos dizer que para que uma família possa chegar à sua plenitude, à sua felicidade completa Jesus deve ser um dos membros permanentes da família. Por isso, mais tarde ele vai nos dizer: “Todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (Mt 12,50). Jesus buscou, antes de tudo, a vontade de seu Pai. Os laços familiares estavam subordinados à missão que ele recebeu do Pai.

         Por isso, a família deve ser amada, apreciada, estimada e recordada porque ela é o lugar de Deus e dos homens. A família não se mede pelo número de pessoas, mas pela paz aí reinante. Quando os pais e os filhos não se amam, a casa se torna um hotel. A família- hotel é um lar de desconhecidos. Os hotéis enchem-se de hóspedes, mas nem sempre são amigos. No hotel estão próximos apenas por causa das paredes, mas suas almas estão isoladas e fechadas. Uma família- hotel é o lugar onde ninguém se interessa pelas pessoas, apenas pelo negócio rendoso.

 

2. A Sagrada Família ensina cada família a deixar-se conduzir por Deus

         Natal é um tempo familiar. E isto tem uma importância religiosa e psicológica: necessitamos voltar às origens, às raízes, à nossa família. Os valores recebidos na família são os valores vividos na convivência com os demais, fora da família. No plano espiritual fazemos isto em nossas celebrações litúrgicas, renovando nossas “origens sagradas” quando celebramos o nascimento do Senhor. Todos são chamados a valorizar e a salvar sua família a exemplo da Sagrada Família de Nazaré.

         A figura de José na fuga para o Egito ocupa um dos lugares importantes no relato. O Egito era o lugar idôneo de refúgio político. Nos primeiros anos da era cristã calculava Filón em um milhão os judeus que viviam no Egito. O Egito era província romana governada por um prefeito e fora da jurisdição de Herodes.

         Herodes faz planos para tirar a vida do Menino Jesus do seio da família de Nazaré. E José se levanta e faz tudo o que o anjo do Senhor disse no Sonho para fugir ao Egito. Somente uma pessoa muito exercitada na busca da vontade de Deus em sua vida, como São José, pode levar à prática uma ordem como a que José recebeu. O texto quer nos dizer que José está plenamente orientado para Deus. Por isso, o Deus-Pai pode atuar facilmente e ser escutado. É o que acontece sempre com uma pessoa cheia do Espírito de Deus. O anjo do Senhor não indica a José sobre quanto tempo deve ficar no Egito. O anjo o deixa na incerteza. José tem que se limitar em fazer aquilo que lhe é indicado em cada momento. É assim que Deus atua na vida de cada um de nós. Cada um tem que saber o momento de Deus sem pressa, pois o tempo é de Deus. O importante é que cada um esteja sempre em sintonia com Deus e seus planos, como São José. Muitas vezes somos tentados a interpretar Deus e sua vontade de acordo com nossos próprios interesses. Para conhecer os planos de Deus sobre o mundo em geral e sobre cada família em particular são necessárias a plena disponibilidade, a oração e a meditação da Palavra de Deus, o estudo das Escrituras e o silêncio. Não há obra prima e perfeita que não seja fruto de um silêncio. De tudo isto brota a verdadeira ação cristã. Ação que nos levará constantemente ao estudo e à oração no silêncio interior e vice-versa.

         Além de refletir sobre a obediência de José, também somos chamados a contemplar o silêncio de Maria e José neste relato. Na vida não basta contemplarmos somente o que as pessoas fazem e falam, mas também o seu silêncio, aquilo que elas não falam, mas dizem muito. Para entender o silêncio do outro é necessário criar o próprio silêncio. Neste relato Maria e José não falam, mas fazem tudo em silêncio. Dizem que quem faz muito barulho porque faz muito pouco ou talvez nada faça. A presença de Maria é sublinhada quatro vezes no relato. Ela é denominada, significativamente, não pelo seu nome próprio, mas como mãe: “o menino e sua mãe” (cf. Mt 2,13. 14.20.21). A vida e a história, a vocação e a missão de Maria são inseparáveis das de Jesus. E José? É ele quem recebe a ordem de fugir para o Egito e de voltar para a terra de Israel (vv.13.19-10); é ele quem as executa pronta e fielmente (vv.14.21.23). É ele quem protege Jesus dos que o buscam para matá-lo e que o traz de volta para a Galiléia. O que é que o silêncio produtivo de Maria e de José diz para nós?

         Em Maria e José podemos também ver o rosto de todas as mães e pais que cuidam e criam os filhos com muito sacrifício, muita dedicação por causa do amor que eles têm por eles.  Tudo isso nos faz lembrar de tantas mães que muitas vezes não dormem a noite inteira para estar com o filho doente ou ficam impotentes perante a doença incurável de um filho que está à beira da morte ou as mães que enfrentam uma fila enorme nos hospitais para evitar o filho da ameaça da morte. O Natal certamente é um momento oportuno para ver o nosso natal (nascimento) pelo qual podemos ver os nossos pais e seus sofrimentos ao nos criarem e a dívida que temos por eles.

 

 

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