Epifania do Senhor / Ano C

31/12/2012 13:58

 

Epifania do Senhor / Ano C


"As nações de toda a terra hão de adorar-vos, ó Senhor!"Salmo 71.
 
 
PRIMEIRA LEITURA - Is 60,1-6
 
Nesta situação calamitosa do pós-exílio a cidade de Jerusalém estava prostrada em petição de miséria. Faltava tudo, faltava até gente. O povo minguado e entristecido precisava de um profeta otimista, sonhador, poeta. É exatamente este papel que desempenha o trito-Isaías, ou seja, o profeta da 3a parte do livro de Isaías (1ª: 1-39 – antes do exílio; 2ª: 40-55 – durante o exílio; 3ª: 56-66 – após o exílio). O capítulo 60 é algo de fascinante em termos de poesia, de otimismo, de esperança, de sonho. Tire um tempinho e leia o capítulo todo; foi escrito para levantar o ânimo do povo, reanimar-lhe a esperança. Javé é um esposo apaixonado que quer transformar sua esposa – Jerusalém – na admiração das nações. Para ela todas as nações vão convergir. Javé quer ornamentá-la de esplendor e enchê-la de filhos.
 
Os três primeiros versículos destacam diante das trevas das nações o esplendor de Jerusalém. O profeta convida-a a levantar-se e a brilhar com o próprio brilho de Javé que está sobre ela. Este brilho fulgurante atrairá para Jerusalém todas as nações. No v. 4, o profeta sonhador convida Jerusalém a olhar e observar filhos e filhas se reunindo em torno dela. É a cidade- esposa que se tornou mãe. Seus filhos e filhas são reconhecidos entre as nações. Os vv. 5-6 salientam o que os filhos e filhas estão trazendo: trazem as riquezas do mar e as riquezas do oriente. É o esposo presenteando a esposa com as joias mais preciosas. O rosto da esposa sorri de alegria, seus olhos brilham, sua face resplandece e seu coração explode de emoção. O v. 6 especifica que camelos e dromedários trazem incenso e ouro. A meta é o Templo, a finalidade é o culto a Javé. Por isso toda a multidão se aproxima anunciando os temores de Javé. Uma vez que o texto não cita expressamente o nome de Jerusalém, não poderíamos ver nesta comunidade-esposa a nossa comunidade?
 
SEGUNDA LEITURA - Ef 3,2-6 
 
A carta aos efésios foi escrita da prisão. Ela é atribuída a Paulo, senão é dele, é de um dos seus discípulos. A carta pretende apresentar para a comunidade da região de Éfeso (Éfeso e cidades vizinhas) a revelação do mistério do amor salvífico de Deus. Paulo chama de mistério a revelação do plano de Deus de salvar todos os povos em Jesus Cristo. A Bíblia “pastoral” ensina que o “mistério é o centro do anúncio de Paulo, e está inseparavelmente ligado à sua vocação de missionário entre os pagãos. Esse missionário é o profeta de Deus, que se realizou em Jesus Cristo e que manifesta toda a sua grandeza na Igreja, através do mistério de Paulo: os pagãos são chamados a pertencer ao povo de Deus”. Através do evangelho anunciado por Paulo todos (e não apenas os judeus) são chamados à salvação. O v.2 lembra que essa tarefa missionária é uma graça de Deus a ele concedida. O v. 3 explica que este mistério chegou até ele por revelação de Deus. Podemos entender “revelação” no sentido mais amplo, ou seja, a experiência profunda que Paulo fez de Cristo, a sua contínua meditação sobre o projeto de Deus. Paulo chegou a ter uma percepção muito grande e clara sobre o mistério de Cristo. O v. 5 distingue as gerações passadas da geração presente. O modo como Deus manifestou o mistério do seu amor para a geração presente é muito diferente e muito mais clara do que sua manifestação às gerações passadas. O v. 6 apresenta a grande revelação. Aqui podemos sintetizar seus grandes pontos – a) Ela vem por Jesus Cristo através do evangelho. b) Não é mais privilégio dos judeus. Destina-se também aos pagãos. Quer dizer a salvação de Deus é para todos os povos. c) Os pagãos são chamados a participar da mesma herança – não há mais privilégios. d) Eles são chamados a formar o único e mesmo corpo de Cristo que é a Igreja. e) Eles são chamados a participar da mesma promessa do Salvador. Em síntese, não há mais discriminação nenhuma.. Será que nós estamos, na prática, vivendo este evangelho, esta Boa Nova de não discriminação? Não discriminamos entre bons e maus, entre católicos e protestantes, entre pretos e brancos, entre casados e divorciados, entre pobres e ricos, etc.? 
 
EVANGELHO - Mt 2,1-12
 
Quais são os personagens do texto? De um lado Jesus, Maria, os Magos e Belém. Do outro lado e em oposição temos: Herodes, chefe dos sacerdotes, doutores da lei e Jerusalém. São dois grupos rivais. O segundo grupo quer eliminar o primeiro. São os poderosos deste mundo querendo engolir os pequeninos do Reino. São os homens sem Deus contra os homens de Deus. É o mundo pagão contra a Igreja cristã. Embora os personagens sejam históricos, a narração tem cunho teológico, não pretende ser uma crônica dos acontecimentos. O capítulo 2º quer mostrar a missão de Jesus de salvar todos os povos pagãos, representados pelos magos.
 
Primeira parte (vv. 1-5)
 
- Jesus é o verdadeiro rei dos judeus em oposição a Herodes que é violento, prepotente, opressor e a serviço do poder supremo que está em Roma.
 
- Jesus nasce em Belém – cidade de Davi, rei-pastor quer dizer, Jesus vai reinar com mansidão, justiça, carinho de pastor. Belém não é capital. Representa o povo simples, humilde e pobre das periferias. Jerusalém – capital – simboliza o poder tirano e opressor. 
 
- Os magos representam todos os povos pagãos abertos à salvação de Deus. Eles vieram prestar homenagens ao verdadeiro rei dos judeus, o falso Herodes não merece homenagens. Os magos são sinceros, querem adorar o Salvador de todos os povos que nascem no meio dos pobres.
 
- Herodes reúne os grandes e poderosos. Eles têm o poder e o domínio das Escrituras e da religião, mas não têm o Espírito que vivifica, nem o coração que acolhe e ama. Eles sabem tudo, mas não acolhem o Salvador. Re-jeitam o Salvador.
 
- O v. 6 que serve de ponte entre a primeira parte e a segunda, revela a grandeza da pequena Belém e a majestade do verdadeiro chefe, do humilde bebê. Mas este não é acolhido pelos que ambicionam o poder. 
 
Segunda parte (vv. 7-12) 
 
- Os vv. 7-8 escondem a mentira e a hipocrisia dos poderosos representados por Herodes. O v. 13 vai revelar seu propósito assassínio.
 
- A estrela, simbolicamente, representa o coração sincero dos magos “os anseios mais profundos da humanidade sedenta de paz, justiça e fraternidade”. Esta estrela não aparece sobre Jerusalém opressora. Depois que os magos deixam Herodes e Jerusalém a estrela reaparece para guiá-los e pára sobre o lugar, onde estava o Menino.
 
- Os magos de joelhos prestam homenagem a Jesus reconhecendo nele o seu Rei e Salvador. Percebem que o Salvador vem dos pequenos.
 
- Prostrar-se de joelhos indica que os magos (= os pagãos) estão a serviço do novo Rei e Salvador.
 
- Os presentes são uma oferta a Jesus do que eles têm de mais nobre. Para os padres da Igreja, o ouro simboliza a realeza de Jesus; o incenso, a divindade e a mirra simboliza a paixão. Mirra é um perfume que serve para embalsamar os corpos.
 
- Os magos retornam por “outros caminhos”. Isto significa que o caminho da salvação não passa por Jerusalém nem pelos grandes, nem pelas opressões simbolizados em Herodes. Acolher Jesus é romper com os grandes deste mundo.
 
Dom Emanuel Messias de Oliveira
Bispo Diocesano de Caratinga

 

Da redação do Portal Ecclesia.

 

 
 

 

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