5º Domingo da Páscoa/Ano C

22/04/2013 09:12

 

 

5º Domingo da Páscoa/Ano C

A expressão de fé em Jesus é o amor

1ª Leitura - At 14,21b-27
Salmo - Sl 144,8-9.10-11.12-13ab (R.cf.1)
2ª Leitura - Ap 21,1-5a
Evangelho - Jo 13,31-33a.34-35

31Depois que Judas saiu, do cenáculo disse Jesus: ‘Agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele.

32 Se Deus foi glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e o glorificará logo. 33 a Filhinhos, por pouco tempo estou ainda convosco.

34 Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. 35 Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros.’.


* 31-38: O mandamento novo supera todos os outros mandamentos. Deus e o homem são inseparáveis. E é somente amando ao homem que amamos a Deus. Em Jesus, Deus se fez presente no homem, tornando-o intocável. Tal mandamento novo gera uma comunidade, que oferece uma alternativa de vida digna e liberdade perante a morte e a opressão.

Bíblia Sagrada – Edição Pastoral

 

O novo mandamento e a nova criação

“Novo” é uma palavra mágica, que domina a publicidade e os jornais, mas também traduz a esperança que se expressa em numerosas páginas da Bíblia. O entendimento do cristianismo é baseado na sucessão da antiga e da nova Aliança, do antigo e do novo Povo de Deus. E, também, na passagem da antiga para a nova vida (páscoa, batismo!) e na observância de uma nova Lei em vez da antiga. Vivemos da perspectiva de uma total renovação. Esta perspectiva se expressa, na liturgia de hoje, sob as imagens de um novo céu e uma nova terra, uma nova Jerusalém e uma nova criação. Entretanto, parece que tudo fica no velho …

Por isso, importa refletir sobre o próprio da novidade que Jesus Cristo nos propõe, nas simples palavras de Jo 13,34: “Dou-vos um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, amai-vos também uns aos outros”. A própria construção da frase, o paralelismo dos 1° e 3°, 2° e 4° segmentos da frase, sugere que o “novo” deste mandamento (1º  segmento) consiste, exatamente, no “como eu vos amei” (3º  segmento). Nem a palavra “amar”, nem o mandamento do amor são novos (cf. Lv 19,18 etc.). Novo é amar como Jesus, amar em Jesus, por causa de sua palavra (evangelho).

Tudo tem um contexto histórico. Também esta frase. Seu contexto é complexo.

Por um lado, existia no judaísmo o amor ao próximo, no sentido de membro da comunidade, combinado com o respeito pelo estrangeiro que morava na vizinhança, e com certa filantropia para com os outros seres humanos. Existia também o amor humano do mundo grego, espécie de filantropia universal, baseada na igualdade essencial do ser humano (pelo menos, em teoria); era um amor antes ao longínquo do que ao próximo, porque o longínquo não incomoda … Existia também o amor erótico. Existia a amizade. Mas, como diz Paulo em Rm 5,7-11, mesmo a amizade não produz o efeito de alguém dar sua vida pelo amigo; quanto menos pelo inimigo! Ora, o amor de Cristo é um amor dando vida, dandosua vida em prol dos “irmãos”, subentendendo-se que irmão pode ser qualquer um que, pelo Pai, é levado a Cristo ou à sua comunidade. É possível existir tal amor em outros ambientes culturais e religiosos. E nem todos os cristãos vivem, ou pretendem viver, o mandamento do amor que Cristo ilustrou com sua morte. Porém, não se conhece outra comunidade que se caracterize especificamente por este mandamento. “Nisso conhecerão que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns pelos outros” (13,35). E bem aquele amor que é ilustrado pelo contexto literário de Jo 13,31-35 (contexto anterior: o lava-pés, sinal de amor até o fim; contexto posterior: o amor até o fim em realização: a morte na cruz).

Onde reina este amor, as coisas não ficam como estão. O status quo é garantido pelo instinto de conservação do homem: ninguém quer sacrificar algo a favor dos outros “primeiro eu, depois meu vizinho”. Quem quebra o status quo é Deus. É dele que podemos esperar a total novidade (pois deixar tudo como está não parece ser a melhor das soluções). É o que sonha o autor do Ap (2ª  leitura). No fim da História, ele vê um novo céu e uma nova terra (realização de Is 65,17). Não tem mar, moradia do Leviatã. A nova realidade tem a aparência de uma noiva enfeitada para seu esposo: as núpcias messiânicas. É a moradia de Deus com os homens (cf. Ez 37,27). É a nova Aliança: eles serão seu povo e ele será seu Deus (ibid.). É a plenitude do Emanuel, Deus-conosco (Is 7, 14ss). É a consolação completa (Is 25,8; 35,10). É tudo o que se pode esperar. É a nova criação (cf. Is 65,17).

O sonho da nova criação … Os que dizem que a utopia é a mola propulsora da História geralmente não concebem tal utopia como sendo a de Deus. Preferem ter sua própria utopia. Ora, quem reflete um pouco, deve entender que a utopia é coisa importante demais para depender do ser humano … Ou deveremos pensar como o filósofo: “Eu posso conceber que, em vez do homem individual, a própria lógica da História estabeleça a utopia”? Mas quem perscruta a lógica da História? .. Portanto, é bom sermos dirigidos por uma utopia que venha de Deus. E como é que a conhecemos? Pela fé em Jesus Cristo, que inspirou o autor do Apocalipse. Na medida em que o sonho do visionário de Patmos traduz a plenitude do “novo” que Jesus nos deixou – o amor segundo o seu exemplo – nós também podemos sonhar nesta linha. Um sonho não é científico, mas nos transmite uma mensagem: a mensagem da ausência de todo o mal, agressividade, exploração, opressão, divisão … Convida-nos a nos empenhar nesta direção. Nisto está sua força propulsora.

Aquilo que “Deus obrou com Paulo e Barnabé”, na 1ª  viagem de missão, início da grande expansão do cristianismo no mundo não judeu (1ª  leitura; cf. dom. pass.), se inscreve nesta utopia. Quem move esta obra é Deus. “Que todas as tuas obras te louvem, Senhor” (salmo responsorial).

Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

 

Um Mandamento novo para um mundo novo 

Muitas pessoas hoje demonstram desânimo. As notícias são deprimentes. Guerras intermináveis, que sempre de novo inflamam por baixo das brasas. Populações africanas que se apagam pela fome, pelas epidemias. Cruéis guerras religiosas na Ásia, na Indonésia. Extermínio das crianças meninas na China. Violência em nossos bairros, corrupção em nossas instituições. E mesmo na Igreja …

Existe alguém que possa dar um rumo a este mundo? A resposta é: você mesmo, mas não sozinho. Alguém faz aliança com você. Ou melhor: com vocês, como comunidade. E em sinal dessa aliança, deixou-lhes um exemplo e modo de proceder: um novo mandamento. “Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei” – isto é, até o fim, até o dom da própria vida, seja vivendo, seja morrendo. É o que nos recorda o evangelho de hoje.

Não há governo ou poder que nos possa eximir deste mandamento. Só se o assumirmos como regra de nossa vida, o mundo vai mudar. Não existe um mundo tão bom e tão bem governado, que possamos deixar de nos amar mutuamente com ações e de verdade. Mas, por mais desgovernado que o mundo seja, se nos amarmos mutuamente como Jesus nos tem amado, o mundo vai mudar. Por que, então, depois de dois mil anos de cristianismo, o mundo está tão ruim assim? A este respeito podem-se fazer diversas perguntas, por exemplo: Será que os homens se têm amado suficientemente com o amor que Jesus nos mostrou? E como seria o mundo se não tivesse existido um pouco de amor cristão? Não seria bem pior ainda?

O Apocalipse, lido nas liturgias deste tempo pascal, muitas vezes é considerado um livro de terror e de medo. Mas, na realidade, ele termina numa visão radiante da nova criação, da nova Jerusalém, simbolizando a indizível felicidade, a “paz” que Deus prepara para os que são fiéis ao novo mandamento de seu Filho (2ª  leitura). A nova Jerusalém é o povo de Deus envolvido pelo esplendor, ainda escondido, do amor de Cristo, que o torna radiante, como o amor do noivo torna radiante a sua amada. Quem é amado e se entrega ao amor, torna-se amor!

É isso que deve acontecer entre nós. Jesus nos amou até o fim. Nossa comunidade ec1esial deve transformar-se em amor, irradiando um mundo infeliz e desviado por interesses egoístas e mortíferos. Ao invés de ver somente o lado ruim da Igreja – talvez porque nosso olho é ruim -, vamos tratar de ver a Igreja como uma moça um tanto desajeitada e acanhada, mas que aos poucos vai sentindo quanto ela está sendo amada e, por isso, se torna cada dia mais amável e radiante. Ora, para isso, é preciso que deixemos penetrar em nós o amor de Deus e o façamos passar aos nossos irmãos, não em palavras, mas com ações e de verdade.

Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

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