3º Domingo da Quaresma - Urgência da conversão

25/02/2013 08:49

 

 

3º Domingo da Quaresma/Ano C

Urgência da conversão

1ª Leitura: Ex 3,1-8a.13-15
Salmo: 102
2ª Leitura: 1Cor 10,1-6.10-12

 

* 1 Nesse tempo, chegaram algumas pessoas levando notícias a Jesus sobre os galileus que Pilatos tinha matado, enquanto ofereciam sacrifícios. 2 Jesus respondeu-lhes: «Pensam vocês que esses galileus, por terem sofrido tal sorte, eram mais pecadores do que todos os outros galileus? 3 De modo algum, lhes digo eu. E se vocês não se converterem, vão morrer todos do mesmo modo. 4 E aqueles dezoito que morreram quando a torre de Siloé caiu em cima deles? Pensam vocês que eram mais culpados do que todos os outros moradores de Jerusalém? 5 De modo algum, lhes digo eu. E se vocês não se converterem, vão morrer todos do mesmo modo.» 6 Então Jesus contou esta parábola: «Certo homem tinha uma figueira plantada no meio da vinha. Foi até ela procurar figos, e não encontrou. 7 Então disse ao agricultor: ‘Olhe! Hoje faz três anos que venho buscar figos nesta figueira, e não encontro nada! Corte-a. Ela só fica aí esgotando a terra’. 8 Mas o agricultor respondeu: ‘Senhor, deixa a figueira ainda este ano. Vou cavar em volta dela e pôr adubo. 9 Quem sabe, no futuro ela dará fruto! Se não der, então a cortarás’.»


* 13,1-9: No caminho da vida há acontecimentos trágicos. Estes não significam que as vítimas são mais pecadoras do que os outros. Ao contrário, são convites abertos para que se pense no imprevisível dos fatos e na urgência da conversão, para se construir a nova história. A parábola (vv. 6-9) salienta que, em Jesus, Deus sempre dá uma última chance.

Bíblia Sagrada – Edição Pastoral

 

Deus é fogo, mas tem paciência

Depois dos episódios da tentação e da transfiguração nos dois primeiros domingos da Quaresma, a liturgia nos propõe o tema da conversão. Nos anos A e B, os enfoques de domingo foram, respectivamente, a catequese batismal e o cristocentrismo. No ano C, o evangelho realça especificamente a graça. Lc é o evangelho da graça, dos pobres e dos pecadores. Para receber a graça que nos renova devemos estar conscientes de sermos pecadores (cf. os próximos domingos). Porém, ao mesmo tempo que nos conscientizamos de nosso pecado, devemos ter diante dos olhos a perspectiva da graça e do perdão de Deus, nosso Pai.

1ª leitura nos coloca em espírito de “temor do Senhor”. Assistimos à grandiosa revelação de Deus a Moisés, na sarça ardente. Deus está em fogo inacessível. Deus devora quem dele se aproxima. “Tira tuas sandálias: o chão em que estás é santo!” (Ex 3,5). Deus está em ardor, porque viu a miséria de seu povo e ouviu seu clamor. Moisés será seu enviado para revelar a Israel sua libertação e ao Faraó a cólera do Senhor. E em nome de quem deverá falar? No nome de “Eu estou aí” (= “Pode contar comigo!”) (3,15).

Deus está aí, com seu poder e sua fidelidade, mas também com sua justiça: na 2ª leitura, Paulo nos ensina a “lição da história” de Israel. Eles tinham a promessa, os privilégios, a proteção de Deus. Todos os israelitas experimentaram, no deserto, a mão de Deus que os conduzia. Todos foram saciados com o alimento celestial e aliviaram-se na água do rochedo (que significa o Messias). Contudo, a maioria deles, por causa de sua dureza de coração, foram rejeitados por Deus (cf. Nm 17,14). Com vistas ao fim dos tempos e ao Juízo, Paulo avisa seus leitores para que aprendam a lição (1Cor 10,1-6).

Lc 13,1-5 é, se possível, mais explícito ainda. Dentro da concepção mágica de que as catástrofes são castigos de Deus, os judeus perguntaram a Jesus que mal fizeram os galileus cujo sangue Pilatos misturou com o de suas vítimas, quando foram apresentar sua oferta no templo de Jerusalém; ou as dezoito pessoas que morreram porque caiu sobre elas a torre de Siloé. Jesus responde: “A questão não é saber que mal fizeram eles; a questão é que vocês mesmos não se devem considerar isentos de castigo, por serem bons judeus; digo-lhes: se vocês não se converterem, conhecerão a mesma sorte!”

As catástrofes não são castigos, mas lembretes! E não adianta pertencer ao grupo dos “eleitos” – os judeus no deserto, os fariseus do tempo de Jesus, ou os “bons cristãos” hoje. O negócio é converter-se! Pois cada um descobre algo a endireitar, quando se coloca diante da face de Deus. Ou melhor, em tudo o que fazemos e somos, mesmo em nossas ações e atitudes mais dignas de louvor, descobrimos os traços de nosso egoísmo e falta de amor, quando nos expomos à luz da “sarça ardente”. Só Deus é santo.

Por isso, todos nós devemos converter-nos, sempre.

Se, até agora, a liturgia nos inspirou o temor do Senhor, o último trecho do evangelho nos traz a mensagem, tão característica de Lc, da misericórdia de Deus (cf. salmo responsorial), que se mostra em forma de paciência (nos próximos domingos, em forma de perdão). A árvore infrutífera pode ficar mais um ano, pois talvez ela se converta ainda! Mas, algum ano será o último …

Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

 

O Deus Libertador e nossa conversão

Na Quaresma, subida para a Páscoa e caminho de renovação de nossa fé, são apresentados os grandes paradigmas da fé já no tempo do Antigo Testamento. No 1 ° domingo foi o “credo do israelita”; no 2°, a promessa de Deus que Abraão recebe na fé. No 3° domingo, hoje, a 1ª leitura oferece mais um paradigma da fé: o encontro de Moisés com Deus, manifestando-se na sarça ardente. Este paradigma pode ser contemplado como a grande manifestação do Deus que liberta os hebreus do Egito, terra da escravidão. Deus, na sarça ardente, aparece a Moisés, para lhe dizer que ele escutou o clamor do povo. Ele manda Moisés empreender a luta da libertação do povo e revela-lhe o seu nome: Javé, “eu sou, eu estou aí”. Deus está com o seu povo, na luta. Paulo, na 2ª leitura, nos lembra que isso não impediu que Javé retirasse sua proteção quando o povo pecou pela cobiça e o descontentamento. Jesus, no evangelho, ensina aos judeus que eles não devem pensar que os pecadores são os que morreram vítimas de repressão policial ou catástrofe natural: os mesmos que se consideram justos é que devem se converter, e Deus há de exigir deles os frutos da justiça.

Na Igreja, hoje, escutamos um clamor pela “libertação” dos oprimidos, dos discriminados, dos excluídos, dos iludidos … Esse clamor é um eco da missão que Deus confiou a Moisés. Mas, ao mesmo tempo, vemos que muitos cristãos ficam insensíveis ao apelo da conversão, não voltam seu coração para Deus. E mesmo os que lutam pela libertação se deixam envolver pelo ativismo e pelo materialismo, a ponto de acabarem lutando apenas por mais bem-estar, esquecendo que o mais importante é o coração reto e fraterno, raiz profunda e garantia indispensável da justiça. Aliás, a Campanha da Fraternidade nos faz perceber a profunda interação de fatores pessoais e socioestruturais. Por isso é tão importante que nosso coração se deixe tocar no nível mais profundo, para ser sensível ao nível mais profundo do apelo de nossos irmãos.

Deus se revela a Moisés num fogo que não se consome – imagem de sua santidade, que nos atrai, mas também exige de nós pureza de coração e eliminação do orgulho, ambição, inveja, exploração, intenções ambíguas, traição e todas estas coisas que mancham o que somos e o que fazemos. Sem corações convertidos, o Reino, o “regime de Deus” não pode vingar. Se o Deus libertador nos convoca para a luta da libertação, ele não nos dispensa de sempre voltarmos a purificar o nosso coração de tudo o que não condiz com sua santidade e seu amor infinito.

Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

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