12º Domingo do Tempo Comum/Ano C

17/06/2013 09:15

12º Domingo do Tempo Comum/Ano C

Jesus é o Messias 

23

1ª Leitura: Zc 12,10-11
Sl 62
2ª Leitura: Gl 3,26-29
Evangelho: Lc 9, 18-24

-* 18 Certo dia, Jesus estava rezando num lugar retirado, e os discípulos estavam com ele. Então Jesus perguntou: «Quem dizem as multidões que eu sou?» 19 Eles responderam: «Alguns dizem que tu és João Batista; outros, que és Elias; mas outros acham que tu és algum dos antigos profetas que ressuscitou.» 20 Jesus perguntou: «E vocês, quem dizem que eu sou?» Pedro respondeu: «O Messias de Deus.» 21 Então, Jesus proibiu severamente que eles contassem isso a alguém. 22 E acrescentou: «O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto, e ressuscitar no terceiro dia.» 23 Depois Jesus disse a todos: «Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e me siga. 24 Pois, quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas, quem perde a sua vida por causa de mim, esse a salvará.


* 18-27: Não basta declarar e aceitar que Jesus é o Messias; é preciso rever a ideia a respeito do Messias, o qual, para construir a nova história, enfrenta os que não querem transformações. Por isso, ele vai sofrer, ser rejeitado e morto. Sua ressurreição será a sua vitória. E quem quiser acompanhar Jesus na sua ação messiânica e participar da sua vitória, terá que percorrer caminho semelhante: renunciar a si mesmo e às glórias do poder e da riqueza.

Bíblia Sagrada – Edição Pastoral

Reconhecer e seguir o Messias Padecente 

Já no ano B, a liturgia insistiu muito nas predições da Paixão de Jesus, que, em Mc, formam a espinha dorsal da seção mais significativa do ev. Lc introduz no meio das três predições a ”grande viagem” de Jesus (Lc 9,51-18,14). Assim, o tema da predição da paixão aparece só uma vez na liturgia do Ano C: uma razão a mais para lhe dedicar toda a atenção (evangelho).

A situação é a seguinte: Jesus vive um dos seus momentos de intimidade com Deus (Lc 9,18), talvez refletindo sobre o sentido dos sinais messiânicos que lhe é dado fazer (precede imediatamente, em Lc 9,10-17, a multiplicação dos pães). Quer conscientizar seus discípulos daquilo que o Pai lhe faz ver. Pergunta quem, na opinião dos homens, ele é; e, depois de respostas “aproximativas” (João Batista, Elias), pergunta também por quem os discípulos o têm. Pedro se torna porta-voz dos seus companheiros e diz: “Tu és o messias de Deus”. Jesus lhes manda guardar esta intuição para si e explica por quê: o Filho do Homem deve sofrer e morrer, mas também ser ressuscitado. O povo ainda não entenderia isso. Só o entenderão depois de o ter traspassado, o que não deixa de ser mais um “cumprimento” das Escrituras, ou seja, da estranha lógica de Deus (cf. Zc 12, 10-11,1ª leitura; Is 53 etc.). Pois Jesus é o ponto final e a plenitude de toda uma linhagem de profetas rejeitados, messias assassinados, e de todos os “servos” e “pobres de Deus”. A pedagogia de Deus, que consiste em converter o homem não pela força, mas pelo exemplo do amor até o fim, atinge a plenitude em Jesus de Nazaré.

O que Jesus diz “a todos” (Lc 9,23, expressamente) é que eles devem segui-lo, assumindo sua cruz. A melhor maneira para entender Jesus é  fazer a mesma coisa que ele. Não são as teorias cristológicas que nos ajudam a conhecer e entender Jesus, mas o viver como ele viveu, morrer como ele morreu. Fazer a experiência do mundo e de Deus que ele fez, isso é que nos torna seus discípulos, dignos do nome de “cristãos”. Quando a gente compara a palavra do seguimento em Lc 9,23 com Mc 8,34, que lhe serviu de modelo, a gente descobre que Lc acrescentou algo: “cada dia”. Tornar sua cruz não acontece apenas no caminho do Gólgota, mas na vida de cada dia (Lc é o evangelista que mais pensa na situação do cristão comum). Quem não sabe assumir as pequenas cruzes de cada dia, nunca será um mártir do amor até o fim.

Lucas escreve isso com uma finalidade pedagógica, de acordo com seu espírito helenístico, que dava muita importância à “ascese”, o “exercício” (foram os gregos que inventaram o treinamento esportivo). Porém, os pequenos sacrifícios do dia-a-dia não são apenas exercícios esportivos. Eles são exercícios do amor de Cristo. São a manifestação, até nos mínimos detalhes de nossa vida, de quanto temos constantemente diante dos olhos seu amor por nós, manifestado na cruz. A cruz do dia-a-dia é nossa participação da Cruz do Calvário, da qual recebe todo o seu valor.

Temos agora também critérios para distinguir entre o verdadeiro seguimento de Jesus no caminho da Cruz e o superficial entusiasmo que, como um parasita, tira a força e sufoca o verdadeiro amor a Cristo. Muitos que andam com ostentativo crucifixo no peito não têm a mínima intenção séria de viver o que a cruz significa. Consideram Jesus talvez como um João Batista ou Elias redivivo, ou seja, um cara sensacional, mas não estão dispostos a viver no dia-a-dia o que ele viveu. Fazem de Jesus um subterfúgio, uma escusa, uma fachada que os dispensa de qualquer chamado à conversão: “Sou homem de igreja, ninguém me precisa dizer o que devo fazer!” Sobretudo, quando cheiram no ar algo que possa mexer com sua posição social, algo como a opção pelos pobres … Devem aprender a assumir sua cruz, no dia-a-dia, não com espírito revoltado (“Que é que fiz para merecer isso e aquilo, eu que rezo tanto?”), mas com o amor do Cristo, que tem compaixão dos mais sofridos. Então, reconhecerão que sua cruz não é a enxaqueca do dia depois da festa de aniversário, mas a incapacidade de criar uma sociedade justa, em que todos tenham vez.

Entre cristãos, é impossível perpetuar e aprofundar sempre mais o abismo que divide as pessoas social e culturalmente. Pelo batismo, mudamos de personalidade: somos todos “Cristo”, todos iguais aos olhos de Deus, todos seu filho querido: não há mais homem e mulher, judeu e grego, senhor e escravo (2ª leitura). Não deverá esta igualdade escatológica manifestar-se também no dia-a-dia de uma sociedade que se chama cristã?

Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

Em Cristo, todos são iguais

Todo mundo sabe que existem distinções e, muitas vezes, discriminações no tratamento social. O que fazemos com isso na Igreja, na comunidade de Cristo? Paulo, na 2ª leitura, anuncia a igualdade de todos no sistema do “Senhor Jesus”. Acabou o regime da lei judaica, que considerava o ser judeu um privilégio, por causa da antiga Aliança com Abraão e Moisés. A crucificação de Jesus, em nome desse regime antigo (cf. evangelho), marcou a chegada de um regime novo.

Simplesmente observar a lei de Moisés já não é salvação para quem conhece Jesus, para quem sabe o que ele pregou e como ele deu sua vida por sua nova mensagem e por aqueles que nela acreditassem. Estes constituem o povo da Nova Aliança. São todos iguais para Deus, como filhos queridos e irmãos de Jesus – filhos com o Filho e co-herdeiros de seu Reino, continuadores do projeto que ele iniciou.

Neste novo sistema não importa ser judeu ou não-judeu, escravo ou livre, homem ou mulher (branco ou negro, patrão ou operário, rico ou pobre). Mesmo não tendo chances iguais em termos de competição econômica e ascensão social, todos têm chances iguais no amor de Deus. Ora, este amor deve encarnar-se na comunidade inspirada pelo evangelho de Jesus, eliminando desigualdade e discriminação. Provocada pelas diferenças econômicas, sociais, culturais etc., a comunidade que está “em Cristo” testemunhará igual e indiscriminado carinho e fraternidade a todos, antecipando a plenitude da “paz” celeste para todos os destinatários do amor do Pai. Programa impossível, utopia? Talvez seja. Mas nem por isso podemos desistir dele, pois é a certeza que nos conduz! Na “caridade em Cristo”, o capital já não servirá para uma classe dominar a outra, mas para estar à disposição de todos que trabalham e produzem. A influência e o saber estarão a serviço do povo. O marido não terá mais “liberdades” que a mulher, mas competirá com ela no carinho e dedicação.

É preciso perder sua vida para a encontrar (evangelho). Quem se apega aos seus privilégios não vai encontrar a vida em Cristo. Só quem coloca suas vantagens a serviço poderá participar da vida igual à de Cristo, na comunidade dos irmãos.

Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes.

 

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